quinta-feira, 31 de março de 2011

Cenografia, uma mistura de produto, gráfico e decoração

O processo criativo é um método que tem como objetivo propor soluções inovadoras para uma determinada necessidade. As pessoas que trabalham com design estão sempre pensando em um determinado problema do projeto, até mesmo quando não estão trabalhando. Por exemplo, quando elas vão para casa, relaxam, vão fazer outras coisas e, de repente, ao observar um detalhe qualquer de algum objeto, imaginam uma solução incrível para o seu projeto. E é assim que eu me senti quando não estava com muita paciência para postar alguma coisa no blog e vi o show do Iron Maiden em São Paulo no último dia 26/03. O concerto foi realizado no Cícero Pompeu de Toledo, mais conhecido como Estádio Morumbi.

Show do Iron Maiden em São Paulo, dia 26/03/2011
Foto: binhabloom
Fonte: Iron Maiden Brasil


Gostaria que entendessem que, por mais que eu goste dessa banda e me identifique com ela, todas as vezes que os utilizo como exemplo aqui no blog é para falar de design. É claro que pode ter algum comentário um pouco fanático em um ou em outro lugar, mas sempre procurei expor principalmente a relação de sua imagem no meio da música com o desenho industrial e como eles se beneficiam com isso. Eles não possuem espaço em mídias como televisão e rádio, que geralmente não tocam as suas músicas nas programações, e a internet não estava presente nos anos 80, quando começaram. O sucesso de identidade vem do investimento em design e marketing, haja visto que o personagem Eddie (Edward The Head), que representa uma forte imagem da banda para o público, acompanha o grupo britânico desde o lançamento do primeiro single, em 1980. É uma identidade tão forte que chega a ser mais famosa que os integrantes da banda e, segundo Derek Riggs, seu criador, "Eddie já vendeu mais que Mickey Mouse!" Bom, isso são palavras dele, mas não há dúvidas que a banda tenha atingido o seu patamar de hoje com grande ajuda dessa criatura. O Iron Maiden ainda tem como tradição vender camisas com um desenho exclusivo de Eddie para cada show da turnê, o que é para os fãs uma lembrança especial da data. Veja a camisa dessa turnê lançada para os shows no Brasil:

Camisa dos shows do Iron Maiden no Brasil em 2011
Imagem: Divulgação


O que eu vi no show que me chamou tanta atenção, além da execução das músicas ao vivo, foi o investimento e o cuidado com a cenografia, que refletem a importância que é dada por eles aos elementos de marketing e design. Antes do show começar, o palco estava coberto com uma lona preta, que impedia a visão pelos espectadores, mantendo um certo ar de mistério. Às 21h, tudo ficou escuro e o palco mostrava pontos de luz que simulavam estrelas, obedecendo ao tema central da Final Frontier Tour. Quando tudo ficou aceso para a execução da primeira música, a iluminação muito bem feita mostrou um belo cenário de uma estação espacial.

Uma produção espetacular, pra dizer no mínimo. Os verdadeiros fãs, então, tinham uma experiência muito interessante: sabiam qual seria a próxima música. Isso porque os banners do fundo mudavam de acordo com a canção que seria tocada posteriormente, mostrando um desenho do Eddie que fazia referência à próxima canção. Quando apareceu o banner do Eddie, vestido com a farda vermelha de soldado inglês e uma bandeira do Reino Unido nas mãos, todos já sabiam que "The Trooper" seria tocada.

Com essa facilidade de comunicação com os fãs que ele proporcionava, era de se esperar que Eddie tivesse muito destaque no show da banda. E é por isso que foi criada uma versão robô de quase 3 metros de altura do mascote que entrou no palco e que interagiu com a banda. Uma atração à parte. Além disso, Eddie tinha uma câmera na altura dos olhos que registrou imagens que foram passadas no telão para os fãs terem a visão dele, e ainda simulou tocar uma guitarra, com movimentos leves e naturais!

Se isso já não fosse suficiente, ainda havia um outro robô da cabeça de Eddie que media cerca de 8 metros de altura, que possuía movimentos no pescoço, nos lábios e olhos que ficavam acesos. Este robô apareceu pela primeira vez no show que eu fui em São Paulo. Veja:


Video: tilicocorp


A seguir algumas das fotos que eu tirei. Perdoem-me pela qualidade, mas é porque as fotos foram tiradas com telefone celular. Segue as fotos abaixo:







Com tudo isso explicado, seria muito interessante saber como foi o processo de criação de todo esse material e como a equipe da banda conseguiu executar essas idéias. Imaginem o trabalho que não deve ser levar isso para todos os cantos do mundo e adaptar a diferentes locais. É um projeto cenográfico e tanto! E isso tudo deve envolver profissionais das três áreas do design - decoração, produto e gráfico -, além do marketing.

Eu nunca havia pensado tanto na cenografia. Sabia que era um elemento importante, mas achava que era uma coisa a parte, mas vejo que é essencial para um show. Principalmente porque cria muito mais expectativa nos fãs e torna o espetáculo mais completo. Ainda mais em uma época onde os músicos precisam fazer mais shows para não dependerem apenas da vendagem de álbuns, já que assim são vítimas da pirataria. Portanto, para quem tem uma visão desconfiada disso, como eu tinha, pense nisso na próxima vez que for a um show ou a um espetáculo, observe bem, procure entender como isso te ajuda a compreender o desenvolvimento da ação e veja a diferença que isso pode fazer!

4 comentários:

  1. Oi amigo...te visitei via link do Whiplash.net.
    Não sei nada a respeito de marketing, mas lendo teu texto, realmente, o Maiden é um "produto" de forte propaganda e que com certeza vende mais por isso. Se me permite complementar, o Iron Maiden, é hoje a banda de estilo Metal, mais bem sucedida do mundo(fato!). Ninguém vende, ninguém move tantos fãs pelo mundo como eles. Não sou "devoto" mas acho os caras realmente incríveis. Além do Eddie, com certeza o frontman, Bruce é outra arma dessa propaganda. Tu acha normal uma pessoa que pilota por horas, depois faz um show de 2 horas, descansa 8 hrs e volta a pilotar? Enquanto o resto da equipe faz o que quiser? Digo, sem ter nenhum compromisso com nada? Quando o Bruce voltou ao Maiden, com certeza foi pensado em Marketing, pois sem ele, a banda era quase nada. Em contrapartida, Bruce sem o Maiden também não era ninguém. A Tour Somewhere Back In Time deu tão certo (dizem que já foi cogitada para essa tour, venda de ações na bolsa de Londres, mas ficou na conversa) que após 2 anos voltam em nova tour na mesma receita da passada...5 continentes num avião, com toda equipe, palco, aparelhagem e o vocalista piloto...a imprensa do mundo inteiro quer ver isso. Marketing “gratuito” em horário nobre da TV e rádio. Tem inúmeras fotos de vários aeroportos do mundo com avião pousado. Isso pra mim é algo muito bem criado e feito...e não foi sorte ou oportunismo, como você falou, o Eddie vem desde o inicio com a banda, claro que ele está todo remodelado esteticamente e além de marca ele é peça fundamental de marketing. Tem muita gente que conhece o Eddie antes do Maiden...veja os cadernos escolares oficiais da banda, 90% das capas é o Eddie.
    A primeira vez que vi o Maiden, eu como fã queria ver os caras, o Eddie e cantar com eles, apenas isso...da segunda vez, observei tudo que acontece “por trás” do espetáculo. Na minha opinião, o Iron Maiden reinventou a ópera! Ou melhor, é a Ópera Contemporânea. Musical, teatro, “dança”...é uma das maiores maravilhas do entretenimento.
    Amigo se tiver oportunidade, assista Flight 666 que acredito que tu terá outra visão (ainda maior) do Iron Maiden.
    Ótimo post, felicidades e até uma próxima!

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  2. Obrigado pelo comentário Rafael! Achei muito boas as suas colocações, vc observou muito bem as coisas q eu citei e ainda trouxe mais coisas novas q eu gostei e pretendo escrever sobre.

    Acredito q hj em dia tudo tem q ter um pouco de marketing, pq é muito fácil chegar longe com a internet, então as bandas tem q ter uma identidade própria para realmente se consolidarem. O Iron Maiden sempre teve esse conceito, muito antes de internet e outras coisas.

    É por isso q os caras até falaram, q existem fãs de rock, existem fãs de metal e existem os fãs de Iron Maiden, como se fosse uma categoria separada mesmo. Tudo por causa dessa identidade!

    E eu vi sim o "Flight 666", realmente é muito impressionante! Só de haver todo um planejamento para a banda viajar com o seu próprio avião já mostra todo o empenho q eles tem com o marketing. E digo mais, q além de fazer isso tudo q vc disse, o Bruce Dickinson ainda está por trás desse marketing, já q ele tb exerce essa função, não é? Não sei como ele agüenta fazer isso tudo!


    Abs

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  3. Boa Tarde, eu também cheguei aqui via link do Whiplash.net.

    Eu tenho uma opinião bem particular sobre o Marketing/ palco do Maiden, a idéia do Eddie de fato é uma marca, só que pense comigo? a imagem da Caveira atraiu muitos fãs, ajudou e muito a banda ter uma imagem, um diferencial, folclore etc..
    Por outro lado,(e digo isso com certeza absoluta pois já pesquisei isso com várias pessoas que não curtem Heavy Metal), as capas do Maiden dando total destaque ao mascote, espantaram (e ainda espantam) mais pessoas do que atraiu, o leigo no assunto acha que o Maiden é uma banda pesada como o Sepultura, ou que está no mesmo patamar de bandas de Black Metal,em termos de visual que só falam do Diabo, etc.. Todas as pessoas que apresentei as músicas da banda, ficaram surpresas e achavam que era uma coisa bem diferente,pesada,agressiva etc.. nos moldes que citei.
    Pense em canções como Remember Tomorrow e Strange World? são músicas bonitas e acessíveis, mas a capa com o Eddie em destaque com cara de espantalho não dá mínima idéia que ali tenha-se músicas desse tipo? e é um convite a a muitos se afastarem, Jorneyman e a Capa de Dance of Death? pior ainda. etc.
    Finalisando sobre o Eddie, se ele atraiu muitos fãs e criou uma imagem, acredito sim que, com os hits que a banda têm, e capas menos polêmicas, a banda teria vendido ainda mais discos e sofrido menos retaliações por parte da mídia.
    Sobre os palcos do Maiden, para não me acharem louco, deixo claro que a comparação é Maiden x Maiden, pois de maneira geral o palco do Maiden é superior a praticamente tudo no Heavy Metal.
    Vendo a história da banda, acho que o palco deles era bem avançado para a época, mais especificamente o da turne do Powerslave, e de cara faço uma pergunta? Quem estava mais avançado e causava mais impacto em sua época, o palco da turne Powerslave ou Final Frontier?
    A minha opinião é que, pelo que se fazia no anos 80 em termos de palco, era para a banda estar fazendo um espetáculo visual ainda melhor, o palco da turne de Final Frontier eu achei muito legal, aquele Eddie gigante etc, mas senti falta das explosões que na minha opinião deveriam estar presente sempre e com efeitos ainda melhores.
    O Maiden é minha banda favorita, talvez por isso eu exija ainda mais.

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  4. Bacana Anderson, boa análise tb. A respeito do Eddie ser uma escolha que limitou o público da banda, eu concordo com vc. Isso é verdade. Mas se nós pensarmos que, na época, o contexto era o nascimento do Heavy Metal, então não havia quase nenhuma banda mais pesada que o Iron Maiden, por isso eles escolheram aquilo que, de alguma forma, identificasse a banda como pesada e mostrava que o som deles era diferenciado... Eles precisavam tomar uma decisão no momento e o Eddie pareceu bom para eles pq eles se identificaram com a figura dele.

    Mas seja qual for a marca, mesmo se for uma marca muito boa, sempre vai haver rejeição. No caso do Iron Maiden, o Eddie trouxe rejeição de alguma forma, mas imagine o número de fãs que ficaram curiosos com o mascote e acabaram ouvindo a banda por causa dele e deram continuidade? Sempre vai haver prós e contras, mas não tem jeito de saber isso com precisão antes de lançar uma marca. Talvez se eles tivessem deixado o Eddie de lado eles tivessem feito mais sucesso comercial mesmo, mas também eles perderiam uma enorme fonte de lucros, pois ele é um bom produto.

    Sobre o palco eu acredito que teve algumas inovações sim, mas q basicamente continue a mesma coisa dos anos 80, tanto que teve uma entrevista com o Bruce Dickinson q ele disse q não usavam muitos recursos eletrônicos. Já o Eddie mudou mto, tanto q esse novo até toca guitarra! Pra fazer isso realmente precisou de evoluir muito a tecnologia.

    Eu tb senti falta dos fogos, mas o orçamento devia estar apertado, já q eles trouxeram 2 Eddies dessa vez! Hehehe...


    Abs

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