sexta-feira, 9 de setembro de 2011

Uma pequena diferença de atitude

Exemplo de cópias chinesas
Fonte: Autoblog


Uma das postagens mais acessadas do meu blog é sobre o carro Lifan 320 (link), que ficou conhecido como "MINI Cooper chinês" devido ao seu design explicitamente inspirado no tradicional compacto inglês. O objeto de discussão foi justamente a utilização da referência das linhas do MINI, que foi um tanto exagerada, chegando a ser uma cópia. Na época, disse que a fábrica poderia ter investido em um design mais exclusivo, ter desenvolvido um projeto e ter um produto mais diferenciado, e algumas pessoas questionaram o meu ponto de vista com base nos recursos que o Lifan oferece. Nada contra, a discussão é saudável, mas achei que poderia continuar a discussão através de um aprofundamento no assunto e fazendo um estudo de casos parecidos. Por isso resolvi comparar o Lifan 320 com um carro de uma outra fábrica chinesa que tem características muito parecidas com o Lifan, pois ele também é "completo e barato", mas sua montadora foi por outro caminho e investiu em um design exclusivo para o veículo.

A JAC Motors é mais uma fábrica chinesa que entrou no mercado brasileiro com a tática de preços baixos nos seus modelos para conquistar mercado. O principal produto é o J3, mas a montadora já está se movimentando e lançando novos modelos. A estratégia deu certo e por isso estamos vendo um número cada vez maior de carros da fábrica nas ruas e um bom número de pessoas comentando sobre o interesse nos modelos da marca. O termo "design italiano" foi utlizado para mostrar que o projeto foi realizado num dos mais tradicionais centros de design, no mesmo local de onde já surgiram grandes projetos de design automotivo. Utilizar a palavra "design" como promotor de vendas está na moda hoje, fato com o qual eu não concordo totalmente, mas pelo menos não é mentira dizer que o veículo possui sua própria identidade.



Do outro lado, temos a Lifan, com o seu modelo 320 claramente com elementos copiados do MINI Cooper. Eles não fizeram questão de esconder isso, tanto que no Salão do Automóvel 2010 os estandes da Lifan e da BMW (dona da marca MINI) estavam lado a lado. Com essa estratégia questionável, num cenário em que os consumidores exigem cada vez mais a exclusividade nos produtos, os resultados no mercado serão vistos apenas com o passar do tempo.



A Hyundai utilizou há pouco tempo estratégia parecida com a que a JAC Motors está utilizando agora, lançando carros baratos e com preços baixos, mas com uma identidade própria. Hoje a marca é a que mais cresce no mercado mundial e seus modelos são referências de design. A seqüência lógica seria que a montadora se tornasse inovadora, e estamos vendo isso com o lançamento de modelos como o Veloster. A tendência é que a montadora coreana seja uma das ditadoras de tendência no mercado nos próximos anos. Veja algumas fotos do Veloster:



A Kia, que pertence ao mesmo grupo empresarial, também entrou nessa onda e começa a colher os frutos do processo, ganhando cada vez mais adeptos. As duas fábricas possuem uma vantagem em relação aos seus concorrentes, pois elas estão com a visão no futuro, e não precisam se preocupar tanto em correr atrás de seus concorrentes como em outras épocas. Sabemos que um projeto de um automóvel pode durar cerca de 4 ou 5 anos, dependendo da complexidade, então esperar que os concorrentes lancem seus produtos para copiá-los pode significar um enorme atraso.

É muito difícil prever o futuro, e por isso as empresas sempre precisam estar de olho em todas as possibilidades e oportunidades. Se tiver um desenvolvimento contínuo de um programa de design, a tendência é que isso ocorra com mais facilidade. Já no caso de empresas que reagem somente após a sua concorrência lançar um produto, é difícil prever isso, pois nunca haverá uma oportunidade que outras empresas já não tenham aproveitado. Ou seja, ela terá que se contentar apenas com os restos do mercado. É claro que é possível sobreviver das duas formas, e é claro que em alguns mercados as duas táticas possam funcionar, mas tratando-se de um mercado global como é o automotivo, acho que é uma forma bastante arriscada de sobreviver.

Não sei dizer se esta é realmente a estratégia da Lifan, mas para mim a estratégia da JAC Motors parece mais pró-ativa. E eu acho que os resultados dessas estratégias no mercado já podem ser vistos. Já vi muitos carros da JAC Motors por aí, e muitas pessoas comentam que o carro possui muitos benefícios, inclusive manifestando o desejo de comprar um no futuro. No caso do Lifan, vi pocos modelos nas ruas e não ouvi nenhum comentário que não o relacionasse ao MINI Cooper, apesar de alguns terem dito que seria um carro completo e que talvez por isso seria um produto interessante. Não estou comparando um carro ao outro diretamente, pois são de categorias diferentes, e sim comparando as prováveis estratégias das respectivas montadoras, e volto a dizer que, com base nos exemplos citados, acredito que a forma mais provável de obter êxito seja investir em um processo de design com objetivos a longo prazo, visando principalmente uma identidade exclusiva.

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